Mineira de Guaraciaba, Ana do Carmo construiu sua trajetória com base na luta por direitos e justiça social. Moradora de São Bernardo do Campo desde 1966, a parlamentar trilhou um caminho de garra e perseverança, que a levou a ocupar, ao longo de dez mandatos, cargos como vereadora e deputada estadual. Sua história inicia no bairro Ferrazópolis, onde reside até hoje.

Mãe de três filhos trabalhou como diarista até o início da década de 1980, quando passou a atuar como auxiliar de cozinha no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. No dia a dia, concilia a vida parlamentar com o cuidado da casa, sempre com muito carinho por suas plantas, uma de suas paixões. “Minha casa é um refúgio. Gosto de cuidar das minhas plantas e deixar meu lar organizado. Isso me traz paz”, diz.

Religiosa, Ana também tem o hábito de acompanhar missas pela TV e rezar o santo terço diariamente. Seu livro favorito, “A Morte é um Dia que Vale a Pena Viver”, reflete sua relação com a fé. Ah, e se engana quem pensa que a parlamentar é só seriedade: ela também adora ouvir a cantora Shakira nos momentos livres, além disso, não dispensa um bom momento de descontração com a família.

Foi seu espírito de liderança que a levou a um novo caminho: a política. Com forte presença entre os trabalhadores e envolvimento no movimento por moradia, foi convidada por Luiz Inácio Lula da Silva para participar da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT). No início, relutou, mas acabou aceitando o desafio e se tornou a filiada de número 32 do partido. “Nunca imaginei que entraria para a política. Mas vi que era preciso, porque só assim poderíamos mudar de verdade a vida das pessoas”, afirma.

A primeira tentativa a vereança não resultou em vitória imediata, mas obteve expressivos 1.939 votos. Persistência sempre foi sua marca registrada. Seis anos depois, voltou às urnas e foi eleita com 4.138 votos, sendo a vereadora mais votada do partido no município. A partir dali, não perdeu mais nenhuma eleição. Foram cinco reeleições na Câmara Municipal (1989, 1993, 1997, 2001, 2021 e 2025) e quatro mandatos consecutivos na Assembleia Legislativa de São Paulo (2002, 2006, 2010 e 2014).

Para ela, a última eleição foi a mais difícil da sua história política. “Foi a eleição mais complicada. Foi muito chão que andei para estar com a população. As redes são importantes, mas, para mim, política deve ser feita olho no olho. Tenho muito que agradecer ao meu eleitorado tão fiel”, agradece.

HISTÓRIA VIVA

Com uma trajetória marcada por sua origem humilde, suas principais bandeiras sempre foram os movimentos de moradia e a defesa dos direitos das mulheres. Ana participou ativamente de ocupações, acampamentos e passeatas, sempre ao lado do povo. “A luta por moradia sempre foi uma das minhas prioridades. Vi muitas famílias sofrendo sem um teto digno, e isso sempre me moveu”, diz emocionada.

Sua atuação também passou a incluir a pauta ambiental, especialmente na última legislatura como deputada estadual. Foi uma das principais incentivadoras do projeto de Aquecedor Solar de Baixo Custo para famílias carentes e da criação da Frente Parlamentar em Defesa dos Alimentos Orgânicos e da Agroecologia, oficializada em março de 2013 no Legislativo Paulista.

Ana também apresentou projetos que impactaram diretamente a vida dos mais vulneráveis, como a proposta que garante transporte gratuito para acompanhantes de pessoas com deficiência. Mas seu maior sonho ainda é ver São Bernardo oferecer um acolhimento completo para mulheres vítimas de violência, com atendimento social, psicológico e políticas de inclusão. “Que a cidade possa desenvolver o atendimento à mulher vítima de violência. Um acolhimento completo, social, psicológico. Essa é uma bandeira que precisa de investimento e da união de todas as vereadoras”, conta.

Aos 70 anos, a vereadora prepara o lançamento de sua biografia, que promete contar em detalhes sua jornada de luta e conquistas. Uma história viva da política de São Bernardo do Campo, que saiu da faxina para fazer história no Legislativo. “A minha história é a prova de que, com coragem e determinação, podemos transformar nossa realidade. Nunca imaginei sair da faxina para ocupar uma cadeira no Legislativo, mas sempre acreditei que a voz do povo precisava ser ouvida”, finaliza.