BRASIL FAZ 440 TRANSPLANTES DE CORAÇÃO EM UM ANO

Número representa avanço no sistema nacional, que realizou mais de 26 mil transplantes de órgãos em 2024
O Brasil efetuou 440 transplantes cardíacos ao longo de 2024, conforme dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) e do Registro Brasileiro de Transplantes (RBT). O número integra um cenário mais amplo, de 26.368 transplantes realizados ao longo do ano passado, consolidando o país como detentor de um dos maiores sistemas públicos e particulares desse tipo de procedimento no mundo.
Entre os procedimentos realizados, 6.297 foram transplantes de rins; 2.449 de fígado; 93 de pulmão; 17.089 de córneas. A maioria (88%) foi realizada através do Sistema Único de Saúde (SUS). Os hospitais em cardiologia desempenham papel fundamental nesse contexto, considerando que o procedimento cardíaco exige infraestrutura especializada e equipes multidisciplinares.
Perspectivas de vida após o transplante cardíaco
O cardiologista Fernando Bacal, referência nacional em insuficiência cardíaca e transplante cardíaco, em entrevista à imprensa, explica que antigamente o procedimento era considerado uma “sentença de morte”, mas que “isso, graças a Deus, é um mito.”
A miocardiopatia dilatada representa a causa mais comum para indicação de transplante cardíaco, seguida pela doença cardíaca isquêmica e doença de Chagas. O procedimento é indicado principalmente para pacientes com insuficiência cardíaca avançada, que não respondem ao tratamento clínico otimizado.
Segundo Bacal, apesar de ser uma cirurgia complexa, o resultado do transplante apresenta uma sobrevida superior a 90%. Sendo o risco de conviver com insuficiência cardíaca maior do que a realização do procedimento.
Após o transplante, os pacientes necessitam de medicamentos imunossupressores permanentemente, que reduzem o reconhecimento do novo coração como corpo estranho e previnem a rejeição.
Histórico e evolução da técnica no Brasil
Em 3 de dezembro de 1967, foi realizado o primeiro transplante cardíaco no mundo, pelo cirurgião sul-africano Christian Barnard. No ano seguinte, no Brasil, Euryclides de Jesus Zerbini foi responsável pelo primeiro procedimento do gênero na América Latina.
O país quase se tornou pioneiro mundial, mas foi embargado pelo Conselho do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) e, posteriormente, pela ausência de doadores. No entanto, com os números recentes, o cenário de transplante de órgãos no Brasil se mostra consolidado, embora persistam desafios relacionados à disponibilidade de doadores.
O transplante cardíaco demanda entre quatro e oito horas para conclusão. A cirurgia utiliza máquina coração-pulmão, permitindo que o organismo receba oxigênio e nutrientes essenciais enquanto o coração é operado. Após a cirurgia, a maioria dos receptores recebe alta hospitalar entre 10 e 15 dias.
Inovações recentes: transplante parcial de coração
O campo da cirurgia cardiovascular testemunhou um avanço em janeiro de 2024, quando médicos da Duke Health, nos Estados Unidos, realizaram o primeiro transplante parcial de coração do mundo. A técnica substitui apenas uma porção do coração do paciente por parte saudável de um coração doado.
Esse tipo de transplante permite que o coração remanescente continue funcionando, enquanto a porção transplantada assume as funções críticas. A abordagem mostra potencial para aumentar a disponibilidade de doadores e acelerar a recuperação dos pacientes, segundo o cirurgião cardiovascular Fernando Figueira.
Principais barreiras para expansão dos transplantes
Apesar dos avanços técnicos, a principal barreira para ampliação dos transplantes cardíacos permanece sendo a autorização familiar, conforme a ABTO. Mesmo quando a pessoa manifesta desejo de doar o órgão em vida, a autorização dos familiares é obrigatória, conforme a Lei nº 9.434/1997, regulamentada pelo Decreto nº 9.175/2017.
O tempo também representa fator crítico no processo. Após a retirada do corpo do doador, o coração tem até quatro horas para ser transplantado, período que pode aumentar em cirurgias heterotópicas ou condições complicadas.
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