CANÇÕES DE NATAL: QUAL A ORIGEM E A HISTÓRIA DAS MÚSICAS NATALINAS MAIS POPULARES DO MUNDO?

CANÇÕES DE NATAL: QUAL A ORIGEM E A HISTÓRIA DAS MÚSICAS NATALINAS MAIS POPULARES DO MUNDO?

De “Jingle Bells” a “Noite Feliz”, conheça a fascinante trajetória das cantigas que amamos por diferentes países, culturas e idiomas

Quando você pensa nas comemorações de Natal, que canções mais costumam vir à sua mente? Quais vozes e melodias são ouvidas novamente num piscar de olhos, trazendo consigo memórias de infância ao lado da família e dos amigos? 

Se você pensou em “Bate o Sino”, “Então é Natal” ou, ainda, “Noite Feliz”, talvez isso tenha uma razão: são cantigas como essas que, ao longo do tempo, foram repassadas de geração em geração em várias partes do mundo, se tornando clássicos natalinos entre pessoas das mais diversas idades (e idiomas!). Verdadeiras partes da tradição de Natal, a maioria, inclusive, foi composta séculos atrás — como é o caso da universal “Jingle Bells”, escrita em 1948, mas trilha sonora de muitas ceias nos dias atuais.

Para compreender melhor a origem e história das músicas mais tocadas na data, nesta véspera de Natal, a plataforma de idiomas Preply mostra como as canções que todos conhecemos viajaram no tempo e espaço, ganharam versões em várias línguas e se ajustaram aos contextos dos diferentes países, incluindo adaptações com a cara dos brasileiros. Confira abaixo!

“Jingle Bells” (“Sino de Belém”) 

Apesar de uma carreira longa e repleta de gravações históricas, o cantor norte-americano Frank Sinatra é muito lembrado pela sua versão da música natalina mais conhecida no Ocidente: “Jingle Bells”, que teve suas primeiras frases gravadas no verão de 1948. Tanto é que, até hoje, é comum se aproximar de uma árvore de Natal em muitas partes do mundo e ouvi-lo cantar: “Jingle bells/ Jingle bells/ Jingle all the way…” 

Mas o que muitas pessoas não sabem é que a canção é pelo menos um século mais antiga do que a versão de Sinatra, já que, na verdade, foi composta em meados de 1857, em estilo festivo, pelo pianista e compositor norte-americano James Lord Pierpont.

Para se ter uma ideia, seu primeiro nome foi “One Horse Open Sleigh” (“Trenó Aberto Com um Cavalo”, em tradução livre), com uma composição que contava sobre um acidente envolvendo um cavalo na neve. Não à toa, quando Pierpont patenteou a música, dois anos depois, já com o nome de “Jingle Bells”, os sinos aos quais ele se referia na letra não eram de Natal, mas aqueles que ficavam pendurados nos arreios dos cavalos, durante o século 19, para impedir colisões no chão fofo. 

Curiosamente, não havia nenhuma menção sequer ao Natal na letra original. Muito pelo contrário, aliás: alguns trechos chegaram a ser proibidos nas igrejas da época, visto que mencionavam “garotas bonitas dentro do trenó”. Segundo o site DiscoverMusic, a ideia original continha até mesmo certa passagem retirada das versões seguintes, que dizia algo mais ou menos assim: “Go at it while you’re young/ Take the girls tonight” (ou “Faça isso enquanto você é jovem/ Pegue as garotas hoje à noite”).

Já a versão natalina de “Jingle Bells” foi gravada por vários outros grandes nomes da música norte-americana nas décadas seguintes, sobretudo os jazzistas, como Duke Ellington, Ella Fitzgerald e Louis Armstrong, além de Bing Crosby. No Brasil, por sua vez, o radialista carioca Evaldo Rui Barbosa optou por traduzir a letra inserindo referências cristãs próprias da festa de Natal, com o “jingle all the way” substituído pelo “sino de Belém”. 

“Stille Nacht” (“Noite Feliz”) 

Mesmo quando ainda era um mero poema escrito pelo padre austríaco Joseph Mohr, a canção “Silent Night” (em alemão “Stille Nacht”), de 1816, já narrava uma história conhecida por todos nós: a descrição de uma noite calma e brilhante em um lugar recôndito, interrompida pelo nascimento repentino de uma criança especial — o “pobrezinho nascido em Belém” que viria ao mundo como sinal de redenção e paz. 

Naquela época, mais precisamente em 1818, bastou que Mohr tocasse e cantasse sua composição ao lado de um amigo, o diretor do coro da igreja local, Franz Gruber, para que a história da canção começasse a ganhar os contornos épicos que marcariam seu caminho pelo planeta.

A versão mais conhecida que se conta é que um homem contratado para reparar o órgão da igreja fez cópias da partitura e levou para a sua cidade, onde, por sua vez, caiu nas mãos de duas famílias que viajavam pela Europa cantando em reinos e vilas europeias. Em 1834, “Silent Night” foi performada ao rei prussiano e, anos depois, já havia chegado nos teatros de Nova York. 

Uma reportagem deste mês do jornal norte-americano Washington Post diz que “Silent Night” é a música mais gravada da história, com cerca de 3,7 mil versões diferentes. Entre os nomes mais famosos que já a cantaram estão desde o quarteto de Haydn, nos anos 1910, passando por Johnny Cash, Mariah Carey e a atração do momento: a cantora Taylor Swift. 

A versão em português, enfim, é do frei alemão Pedro Sinzig, naturalizado brasileiro, que traduziu a letra na década de 1930, quando já era amigo de outro compositor famoso: Villa-Lobos. 

“We Wish You a Merry Christmas” (“A Todos um Bom Natal”) 

O compositor britânico Arthur Warrell entrou para a história como o autor de outra canção famosíssima de Natal: “We Wish You a Merry Christmas”, que foi traduzida para o português, em algumas versões, como “A Todos um Bom Natal”, mas que significa, originalmente, “Nós Desejamos a Você um Feliz Natal”. 

Na verdade, não foi Warrell quem escreveu a música, mas, sim, quem fez o seu arranjo mais famoso, na década de 1930, para uma apresentação do seu grupo – o Bristol University Madrigal Singers, na Inglaterra. Logo depois, a partitura de Warrell foi publicada pela Universidade de Oxford, e então a confusão começou, entregando a ele o gênio da obra. 

Mas quem compôs “We Wish You a Merry Christmas” – essa música que faz parte de propagandas de TV, coros de igrejas e trilhas sonoras da ceia de Natal de toda família? A resposta é: não se sabe. 

A suposição é que a canção é parte do cancioneiro folclórico britânico desde o século 16, quando era cantada para entreter famílias ricas e poderosas da ilha. Outros sugerem que ela era entoada por músicos itinerantes que passavam pelas casas, durante o Natal, pedindo doces – e não à toa uma parte da letra diz algo como “We all like our figgy pudding” (“Nós gostamos do nosso pudim de figo”). 

Tempos depois, quando canções tradicionais de Natal foram banidas dos templos por ordem de Oliver Cromwell, que assumiu o trono britânico no século 17, essa melodia permaneceu proibida até que os fiéis tentaram recuperá-la cantando-a… de porta em porta. 

Em inglês, há versões da cantora Enya e de Jonnhy Nash, além de uma gravação famosa do violinista holandês André Rieu. 

“Deck the Halls” (“Pinheirinhos Que Alegria”) 

Outra música clássica do Natal é “Deck the Halls”, que, em tradução livre, se chamaria “Enfeite os Corredores”. De fato, a letra começa assim: “Deck the halls with boughs of holly/This is the season to be jolly“, ou “Enfeite os corredores com ramos de azevinho/Esse é o tempo de ser feliz”.

Da mesma forma que “We Wish You a Merry Christmas”, a canção-base data do século 16, mas naquela época não dizia respeito originalmente ao Natal e, sim, ao Ano Novo. O nome original é “Nos Galan”, que, em galês – língua da qual foi criada – significa “Véspera de Ano Novo”.

Enquanto adaptação natalina, “Deck the Halls” tem um primeiro registro em 1862, em uma apresentação britânica reunindo canções populares galesas famosas da época. Mas a fama veio mesmo anos depois, quando o compositor escocês Thomas Oliphant tomou a melodia pelas mãos e compôs uma letra nova, em inglês, para tocá-la nos grandes encontros da corte vitoriana.

Foi quando a letra original celebrando o Ano Novo em galês finalmente deu lugar aos enfeites de Natal entoados por pessoas de todo o mundo – que começaram a associar de forma mais direta a data cristã à canção.

“Happy Xmas (War is Over)” (“Então É Natal”) 

Para fechar essa lista, talvez a única canção natalina que, apesar de ter sido escrita em inglês e gravada por um dos grandes astros da música mundial, tem uma versão em português tão ou até mais famosa no Brasil. Afinal, quem não é levado imediatamente para o primeiro verso da canção da cantora Simone, já começando com uma pergunta: “Então é Natal/ E o que você fez?”.

O mais interessante é que essa é uma tradução literal do começo da música original, composta por John Lennon e sua namorada, Yoko Ono, para o Natal de 1969. Naquela época, eles estavam em pleno “ativismo pela paz”, famoso pelos protestos em que se deitavam em camas de hotéis (“bed-ins) e passavam horas conversando com jornalistas sobre a Guerra do Vietnã. 

“Happy Xmas (War is Over)” foi, na verdade, parte de uma campanha global de Lennon e Yoko lançada naquele ano para embalar o movimento civil que protestava pelo fim do conflito dos EUA na Ásia. Além da música, eles alugaram centenas de outdoors em várias cidades do mundo estampando parte do nome da música: “War is over, if You Want It – Happy Christmas from John & Yoko” (“A guerra acabou, se você quiser – Feliz Natal, de John & Yoko”). 

Segundo o portal Smooth Radio, Lennon tinha um interesse particular na canção: evitar o sentimentalismo comum do período de Natal, que costumava atingi-lo com peculiar tristeza. Ao contrário, a canção tinha sido feita para trazer otimismo. A gravação oficial, porém, viria apenas em 1971, com o cantor tocando guitarra e Yoko cantando a letra em um quarto de hotel, em Nova York. No vídeo clássico, crianças aparecem no coro a partir do primeiro minuto da música. 

Tá, mas e a versão de Simone? 

Foi gravada duas décadas depois, em um álbum de canções natalinas chamado “25 de Dezembro”, que começa com “Então É Natal” e termina com “Natal das Crianças”. A letra traduzida é muito semelhante à versão de Lennon, com apenas algumas mudanças – ao invés de dizer “I hope you had fun/ The near and the dear ones/ The old and the young” (do literal “Espero que você tenha se divertido/ Os próximos e os queridos/ Os velhos e os jovens”), Simone canta “Então é Natal/ pro enfermo e pro são/ Pro rico e pro pobre, num só coração”

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