Os murais de azulejos, fortemente influenciados pela tradição portuguesa, são uma expressão artística presente em diversas regiões do Brasil. Um desses painéis históricos adorna a Rodovia dos Imigrantes desde 1976, no km 42 da pista ascendente. Para garantir sua preservação, a Ecovias Imigrantes, concessionária responsável pelo Sistema Anchieta-Imigrantes (SAI), concluiu a restauração do monumento, um dos mais emblemáticos da região.

Criada pelo artista plástico Antonio Luiz Gagni e inaugurada junto com a Rodovia dos Imigrantes, a obra retrata a trajetória dos imigrantes europeus que desbravaram a Serra do Mar rumo ao planalto paulista. Ao longo das décadas, tornou-se um marco cultural da rodovia, acompanhando milhares de motoristas em seus deslocamentos. No entanto, a exposição contínua ao sol, à umidade e a atos de vandalismo comprometeu sua integridade, exigindo uma intervenção criteriosa para garantir sua longevidade.

Um processo de restauração criterioso

A restauração foi conduzida pelo ateliê AVD Arte & Restauro, a partir de um estudo detalhado das condições do mural. Seguindo as normas do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a intervenção adotou os princípios de Cesare Brandi, priorizando a mínima interferência e a compatibilidade dos materiais utilizados.

A primeira etapa envolveu uma análise minuciosa da estrutura para identificar as áreas danificadas e determinar quais peças poderiam ser recuperadas. Em seguida, foi iniciada a produção artesanal de novos azulejos, respeitando as características originais do painel de Antonio Luiz Gagni. Cada peça foi confeccionada com precisão para garantir fidelidade às cores, texturas e dimensões da obra.

O processo de revitalização incluiu a higienização e limpeza da estrutura, aplicação de biocida para prevenção de fungos e microrganismos, fixação de peças soltas, restauração das pinhas decorativas e confecção de uma réplica para substituir um elemento sem possibilidade de recuperação. Além disso, a pintura do monumento foi renovada, devolvendo à obra sua vivacidade e imponência.

“Revitalizar uma obra de arte desse porte exige um trabalho minucioso, que vai além da simples reposição de peças e limpeza da estrutura. Além de manter a segurança viária e a infraestrutura das rodovias, a concessionária valoriza a história e o patrimônio artístico brasileiro, assegurando que marcos culturais como esse permaneçam vivos na paisagem das rodovias paulistas”, destaca Maurício Dantonio, gerente de engenharia da Ecovias Imigrantes.

Sobre Antonio Luiz Gagni

Antonio Luiz Gagni foi um renomado artista plástico brasileiro, reconhecido por seus murais em azulejos espalhados por diversas regiões do país. Com um estilo marcante e influências da tradição portuguesa, suas obras estão presentes em locais históricos como o antigo Caminho do Mar e a Calçada do Lorena, além de cidades como Itu. Encomendado pela Dersa durante a construção da Rodovia dos Imigrantes, o mural no km 42 é um de seus trabalhos mais emblemáticos, retratando a trajetória dos imigrantes que ajudaram a construir São Paulo.

Sobre Cesare Brandi

Cesare Brandi (1906-1988) foi um historiador da arte e crítico italiano, considerado um dos principais teóricos da restauração no século XX. Fundador do Instituto Central de Restauro na Itália, desenvolveu uma abordagem baseada na mínima intervenção e na compatibilidade dos materiais utilizados, priorizando a preservação da autenticidade das obras. Seu livro Teoria da Restauração tornou-se uma referência para a conservação do patrimônio artístico e histórico, influenciando diretrizes adotadas por instituições em todo o mundo.