Cerca de 150 trabalhadores participaram do ato. De acordo com organizadores, o foco é na falta de compromisso da empresa com os pagamentos aos funcionários.

Um protesto realizado na manhã desta segunda-feira (10) no Aeroporto Internacional de Guarulhos interrompeu o funcionamento de lojas da Starbucks por cerca de duas horas e colocou o Brasil no centro da maior mobilização global já organizada contra práticas trabalhistas da rede. A manifestação, que reuniu aproximadamente 250 pessoas, percorreu todas as unidades da marca dentro do aeroporto em um ato coordenado por entidades como UGT, CUT e Força Sindical, com apoio internacional da Service Employees International Union (SEIU), sindicato que representa mais de dois milhões de trabalhadores nos Estados Unidos, Canadá e Porto Rico.

A ação integra uma onda mundial de protestos que ocorre hoje em diversos países, especialmente nos Estados Unidos, onde baristas organizados realizam paralisações e atos públicos para denunciar jornadas imprevisíveis, assédio gerencial e práticas antissindicais consideradas graves pelas autoridades do National Labor Relations Board (NLRB). A presença desses protestos internacionais foi um dos fatores que motivou a mobilização brasileira, já que a SEIU mantém parceria contínua com centrais sindicais do país em campanhas envolvendo grandes multinacionais do setor de alimentação.

O vice-presidente executivo da SEIU, Neal Bisno, participou do ato em Guarulhos e destacou a importância estratégica dessa articulação. “As empresas são multinacionais. Por isso, os trabalhadores também precisam fortalecer sua união internacional. Quando a pressão acontece de maneira coordenada, o impacto é imediato. Direitos trabalhistas não podem ter fronteiras”, afirmou o dirigente.

O dirigente também comentou a presença de baristas norte-americanos que vieram com a delegação da SEIU ao Brasil e acompanharam o protesto em Guarulhos. “Eles vão levar de volta para os Estados Unidos a energia desse ato. Saber que trabalhadores de outro país se levantaram por eles dá coragem para seguir, aumenta a confiança e mostra que a luta deles é parte de algo muito maior. É assim que direitos avançam: quando quem trabalha se reconhece como parte de uma mesma classe, em qualquer lugar do mundo”, completou.

Ricardo Patah, presidente da UGT, destacou que a mobilização internacional evidencia que os problemas enfrentados no Brasil não estão isolados. “O que vemos aqui acontece em vários países. Os trabalhadores da Starbucks estão sendo desrespeitados no Brasil, nos Estados Unidos e em outros lugares. Esse movimento global mostra que ninguém está sozinho nessa luta. Quando denunciamos juntos, a empresa escuta”.

Protesto brasileiro ganha força por causa da crise da Starbucks no país

Embora o foco da mobilização seja a solidariedade aos trabalhadores norte-americanos, o ato em Guarulhos também ecoa a situação crítica vivida por funcionários brasileiros após a recuperação judicial da SouthRock, antiga operadora da Starbucks no país. Em 2023 e 2024, cerca de 40 unidades foram fechadas e centenas de trabalhadores foram demitidos sem receber verbas rescisórias, cenário que ampliou a adesão das bases sindicais ao protesto desta segunda-feira.

Uma das trabalhadoras afetadas é Ellen Rodrigues Eustáquio, ex-barista do aeroporto de Brasília. Ela afirmou que 17 colegas foram dispensados sem pagamento. “Era para ter recebido minha rescisão faz tempo, mas disseram que as contas estavam bloqueadas. Nem o vale-transporte entrou no último mês de trabalho. A gente precisou pedir dinheiro para voltar para casa no dia da demissão. Foi muito desrespeito com todo mundo”, lamentou a ex-barista.

Com 20 anos, Poliana Rodrigues de Souza, outra ex-funcionária, que trabalhava no aeroporto de Belo Horizonte, relatou situação semelhante. “A gente foi demitida ainda de madrugada, sem nenhuma explicação. Diziam que iriam pagar num dia, mas no dia seguinte mandaram e-mail dizendo que não haveria depósito. Muitas colegas nem conseguiram dar entrada no seguro-desemprego. Foi tudo pensado para não pagar ninguém”, denunciou.

Os casos brasileiros se tornaram um combustível adicional para as manifestações desta segunda-feira, reforçando que os problemas enfrentados pelos trabalhadores da Starbucks não são isolados nem restritos a um único país.

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