A HISTÓRIA DE SANTO ANDRÉ

A história de Santo André começa muito antes de se tornar um município. Para entender sua origem, é preciso voltar ao século 16, no início da colonização portuguesa no Brasil. Nessa época, o rei de Portugal, Dom João III, decidiu intensificar a ocupação do território para proteger a costa brasileira contra invasões estrangeiras e buscar riquezas naturais, como o ouro e a prata. Para isso, enviou uma expedição comandada por Martim Afonso de Souza, que fundou a Vila de São Vicente, a primeira vila do Brasil, em 1532.
Ligado a esse momento está João Ramalho, um português que vivia no planalto paulista e tinha laços com os povos indígenas da região. Ele foi um dos principais intermediários entre os colonizadores e os nativos, e desde cedo solicitava à Coroa Portuguesa a criação de uma vila na área onde vivia, acima da Serra do Mar. Esse pedido foi atendido em 8 de abril de 1553, com a fundação da Vila de Santo André da Borda do Campo. A vila foi criada com o objetivo de fortalecer a presença portuguesa no interior e facilitar as expedições que buscavam metais preciosos.
Porém, a vila enfrentou dificuldades para se desenvolver. As condições de vida eram duras, havia ameaças constantes e faltava estrutura para manter a população. Por isso, em 1560, o padre Manoel da Nóbrega propôs a transferência da vila para um local mais seguro: os campos de Piratininga. Assim, Santo André deixou de existir como unidade administrativa e se tornou apenas uma área rural ligada a São Paulo.
A região permaneceu por muito tempo com pouca ocupação. Mas, já no século 17, o território foi dividido em grandes porções de terra chamadas sesmarias. Em 1631, o Capitão Duarte Machado e sua esposa doaram terras aos monges beneditinos, que formaram a Fazenda São Caetano. Em 1637, outra parte foi repassada à mesma ordem, formando a Fazenda São Bernardo. Essas duas fazendas dominaram a economia local por séculos, com produção agrícola e, mais tarde, com a fabricação de cerâmica e tijolos.
No século 19, a região começou a se transformar com a chegada da ferrovia, que ligava o interior paulista ao Porto de Santos. A Estação de São Bernardo, inaugurada em 1867 nas margens do Rio Tamanduateí (atualmente em Santo André), se tornou um ponto estratégico para o transporte de produtos, especialmente o café. Essa facilidade de acesso atraiu pequenas indústrias e imigrantes europeus, marcando o início da industrialização.
Em 1889, foi criado o município de São Bernardo, que abrangia toda a área do atual Grande ABC. A região que hoje é Santo André era um distrito do município, e começou a ganhar destaque com a instalação de tecelagens, fábricas de móveis e pequenas empresas familiares. Em 1910, foi criado oficialmente o Distrito de Santo André, aproveitando o nome da estação ferroviária.
Com o crescimento da população e da economia, Santo André passou a ter mais influência política e econômica. Em 1939, a sede do município foi transferida do antigo núcleo de São Bernardo para Santo André. A partir daí, o município passou a se chamar Santo André oficialmente e abrangia toda a região do ABC.
A cidade continuou se industrializando, e a partir da década de 1950 recebeu grandes investimentos no setor automobilístico, metalúrgico, químico e de autopeças. Nesse período, a região passou por uma grande transformação, com aumento da urbanização, surgimento de bairros operários e consolidação de sindicatos fortes, que teriam papel importante nas lutas trabalhistas do final do século 20.
A região foi se dividindo: São Bernardo do Campo se emancipou em 1945, São Caetano do Sul em 1947, Mauá e Ribeirão Pires em 1953. Santo André passou a ter uma área de 174,38 km² e ficou com os distritos de Sede, Capuava e Paranapiacaba, sendo este último um importante núcleo ferroviário construído por ingleses no século 19.
Nos anos 1970, Santo André viveu o chamado “milagre econômico”, com expansão da indústria e crescimento acelerado. Mas a partir dos anos 1980, o país enfrentou uma grave crise econômica e a indústria começou a perder força. Muitas fábricas fecharam ou se mudaram para o interior do estado, onde havia incentivos fiscais. Com isso, a cidade teve que se adaptar a uma nova realidade.
Hoje, Santo André é uma cidade que busca equilíbrio entre o passado industrial e o futuro voltado à inovação. O setor de serviços, comércio e tecnologia tem crescido, e há esforços para preservar a memória histórica, com museus, centros culturais e a valorização de bairros como Paranapiacaba. A cidade segue se transformando, enfrentando desafios sociais e econômicos, mas mantendo viva a marca de sua rica história.
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Foto: Estação ferroviária de São Bernardo, atual Santo André,1867.Col: RFFSA. Reprodução: Museu de Santo André