ESTUDANTES E PROFESSORES FAZEM ATO CONTRA RACISMO EM HIGIENÓPOLIS

ESTUDANTES E PROFESSORES FAZEM ATO CONTRA RACISMO EM HIGIENÓPOLIS

Estudantes denunciam que foram vítimas em shopping do bairro


Publicado em 23/04/2025 – 20h44
São Paulo

Estudantes, professores e pais de alunos do Colégio Equipe realizaram, nesta quarta-feira (23), um ato contra o racismo no Shopping Pátio Higienópolis, na capital paulista. A manifestação repercute as denúncias de que dois alunos do ensino fundamental II foram abordados de forma discriminatória por uma funcionária da segurança do centro comercial na última quarta-feira (16).

A manifestação reuniu centenas de pessoas no cruzamento da Avenida Higienópolis com a Avenida Angélica. A maioria dos participantes era de estudantes do ensino básico, não apenas do Colégio Equipe, mas também de outras instituições que se solidarizaram com o caso.

Em comunicado, o Colégio Equipe informou que o protesto foi organizado por movimentos sociais que atuam na luta pelo direito à moradia e contou com o apoio do Instituto Equipe, do coletivo Equipreta e do Grêmio Sankara.

Denúncia

Benedito Barbosa, advogado que acompanha o caso, soube do ocorrido por meio de lideranças sociais. Uma das vítimas vive em uma ocupação urbana e é bolsista no Colégio Equipe, além de participar do programa Proceder, que conecta a escola a coletivos que defendem a habitação digna.

“É como se fosse uma chicotada no corpo e na alma desses adolescentes. Vai ficar para sempre esse ato de racismo”, disse Barbosa.
“Queremos que o shopping pare de apenas pedir desculpas. Queremos ações concretas para que não haja mais discriminação.”

Reações

Presente no ato, Maria Nogueira, da coordenação do Núcleo de Consciência Negra da USP, afirmou que o episódio reflete uma postura higienista recorrente no bairro e no próprio shopping.

“O simbolismo é forte, especialmente pela participação de jovens de 13, 14 anos, muitos em sua primeira manifestação. É um sinal de mudança e de consciência.”

Mariana Carlin, mãe de alunos e integrante da Comissão Antirracista do Equipe, comentou que o caso reforça a importância do letramento racial. O coletivo de pais e alunos criou iniciativas como o Equipreta e o Equipretinha, voltadas para crianças do ensino infantil e fundamental I.

Segundo Mariana, os adolescentes foram discriminados logo após participarem de uma atividade escolar sobre racismo.

“Escolhemos uma escola com essa proposta porque são poucas as que têm um posicionamento antirracista verdadeiro, que vá além dos alunos e atinja também os funcionários.”

Histórico e contexto

Higienópolis é um bairro tradicional e de alto padrão da capital. Em 2011, ganhou notoriedade após protestos contra a construção de uma estação de metrô. À época, uma moradora afirmou que a estação traria “gente diferenciada”, o que gerou revolta e motivou o “churrasco de gente diferenciada” em protesto à visão elitista.

Nota do shopping

Em nota, o Shopping Pátio Higienópolis disse lamentar o episódio e informou estar em contato com a família dos adolescentes:

“O comportamento adotado não reflete os valores do shopping, e o tema está sendo tratado com máxima seriedade. O empreendimento possui uma frequente grade de treinamentos e letramento, que será reforçada.”

Investigação

A Secretaria da Segurança Pública informou que o caso foi encaminhado à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), onde será apurado.

Foto e informações: Letycia Bond – Repórter da Agência Brasil

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