Com a construção da Via Anchieta, na década de 40, São Bernardo começa a atrair algumas indústrias que não tinha na cidade. A de montadora de automóveis.
Mas não era fábrica? Naquela época, a indústria automobilística se resumia à montagem de carros. Motores e peças eram importados e montados aqui. Foi o caso da Brasmotor, primeira montadora de automóveis de São Bernardo do Campo.

Em janeiro de 1946, a Chrysler anunciou a construção de uma linha de montagem para seus produtos em São Bernardo do Campo, através de sua recém fundada representante brasileira, a Cia. Distribuidora Geral Brasmotor, conduzida pelo boliviano Miguel Etchenique. A fábrica ficava no final da Rua Marechal Deodoro, bem próximo a recém inaugurada Via Anchieta.

Da nova fábrica passaram a sair caminhões Dodge, Fargo e De Soto, importados sob a forma SKD. Recebidos totalmente desmontados, chassis e cabines eram soldados e pintados no local, com agregação de diversos componentes nacionais, inclusive peças estampadas pela própria Brasmotor. Os caminhões saíam de fábrica com carrocerias de madeira construídas em carpintaria própria. A capacidade média de produção era de 25 veículos por dia.

Em agosto de 1948 a linha de montagem foi mecanizada, capacitando a empresa a montar também automóveis das marcas Dodge, Plymouth e Chrysler.

Em 1949 a Chrysler norte-americana e a Volkswagen alemã firmaram acordo segundo o qual a primeira autorizava seus concessionários a comercializarem a marca alemã fora dos EUA. Como consequência, naquele mesmo ano a Brasmotor adicionalmente assumiu a representação brasileira da Volkswagen – num momento em que a empresa alemã mal começou a despontar no mercado mundial. Em 1951 os primeiros seis Fuscas nacionais foram montados na planta de São Bernardo. Exatos 1.274 foram produzidos até 1953, quando, após a decisão da Volkswagen de instalar sua própria linha de fabricação no país, a Brasmotor interrompeu a montagem do carro.

Na ocasião, a empresa brasileira propôs à Chrysler sociedade para a construção de uma fábrica comum, não contando com o interesse do grupo norte-americano. Assim, já implantada a indústria automobilística brasileira é proibida a importação de veículos semi-montados, em 1957 também a linha de montagem Chrysler foi encerrada.
Naquela altura a Brasmotor já marcava presença no setor de eletrodomésticos. A marca Brastemp, que significa Brasil Temperatura, criada em 1954 passa a ser o seu foco principal e abandona por completo o ramo automobilístico.

Em 1976 a Brastemp adquiriu a Cônsul e sua subsidiária Embraco, fabricante de compressores selados. Da fusão nasceu a Multibrás, hoje líder nacional de mercado na chamada “linha branca” e segundo maior fabricante mundial de compressores para refrigeração.

Em 1997 o controle acionário da Multibrás foi adquirido pela norte-americana Whirlpool. Em 2001 a Multibrás já cogitava transferir a fábrica para Joinville, em Santa Catarina. Na época houve várias reuniões entre o governo do estado e representantes da empresa. Sem sucesso. Motivos? Na época, a empresa alegou ociosidade na fábrica de São Bernardo “A fábrica de Joinville pode produzir 15 mil refrigeradores e está produzindo 10 mil, a de São Bernardo pode produzir 1.600 e está produzindo 1.000”.

Após a desativação, a parte da área foi construída o Hipermercado Walmart, hoje Big. No restante da área foi construído o São Bernardo Plaza Shopping, inaugurado em 2012.

Hugo Miguel Etchenique, fundador da Brasmotor e Brastemp faleceu em 21 de julho de 2014 e dá nome ao viaduto que liga a Avenida José Fornari a Avenida Brigadeiro Faria Lima, no bairro Ferrazópolis.

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Ednilson Teixeira
Batateiro
Pesquisador das curiosidades da cidade
Admin do grupo de Fotos Antigas de São Bernardo do Campo
Autor do livro Fotos Antigas de São Bernardo do Campo – Álbum Ilustrado.
(para adquirir o livro – http://fotosantigas.saobernardo.br)
MTB n° 0089656/SP
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Fotos: Centro de Memória de S.B.C., Revista Manchete, site Autoentusiastas, Auto Esporte e Família Etchenique.